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Um país que tem um histórico de crimes como o nosso só pode mesmo ser entusiasta de investigação. Nesta semana tivemos Anna Carolina Jatobá de volta às manchetes, expectativa para o Ministério Público do Rio de Janeiro denunciar o 01, Flávio Bolsonaro, no inquérito das rachadinhas e teorias mirabolantes (as que mais gostamos!) para o mistério de como o Queiroz se materializou na casa do advogado Frederick Wassef, se pulando o muro ou voando.

Tá certo que o romance policial brasileiro tal qual conhecemos é uma obra amadurecida por Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza, dois autores que infelizmente perdemos este ano. Mas nossas histórias de investigação são ainda mais antigas.
É pique, é pique, é pique
Há 100 anos, quatro amigos resolveram se unir para escrever a história de um rapaz que comete um crime por vingança. Hoje em dia pode até ser natural a gente perguntar: "Bom, e quem vai investigar?", mas saiba que isso, até então, mal tinha sido feito no Brasil. Não nesse formato óbvio, pelo menos. A literatura brasileira até tem em sua história textos que flertam com o gênero policial, mas nenhum tinha assumido essa identidade.
E assim o exercício despretensioso dos quatro amigos – Medeiros e Albuquerque, Coelho Netto, Afranio Peixoto e Viriato Corrêa – entrou para a história. Tanto que agora, em 2020, comemoramos o que se considera o nascimento do primeiro romance policial brasileiro, O Mysterio, que conta com um assassino tentando sair impune enquanto na sua cola está o investigador Mello Bandeira – sujeito que por vezes é chamado de "aquele Sherlock da polícia".

O romance foi publicado em partes: a cada dia saía um novo capítulo no jornal A Folha, publicação do próprio Medeiros e Albuquerque. Ele escreveu o primeiro capítulo, que já trazia o crime, inclusive com a revelação do assassino e aquele climão pré-vingança. Mas já nos capítulos seguintes, Coelho Netto, Afranio Peixoto e Viriato Corrêa pesaram a mão no humor e fizeram da investigação uma aventura mais cômica.
(Parênteses para dizer que, ao longo da história, raramente deu certo essa prática de autores escreverem capítulos intercalados, um continuando o do outro, até formar um romance. Até mesmo o Detection Club, grupo formado em 1930 por nomes como Agatha Christie, Dorothy L. Sayers e G. K. Chesterton, fez histórias que viraram uma bagunça.)

Mas O Mysterio fez sucesso. Tanto que logo foi publicado em livro e vendeu milhares de exemplares. O que, de novo, prova como o brasileiro (o ser humano no geral?) gosta de um mistério e de uma investigação.
Presente de aniversário
Foi para homenagear esses cem anos que Tito Prates – autor do gênero, biógrafo de Agatha Christie e atual presidente da ABERST, a Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror – resolveu registrar a marca Mystério Retrô e fazer aquilo que a minha geração (millennial) tanto ama: uma viagem nostálgica no tempo.
A nova revista Mystério Retrô foi produzida por financiamento coletivo, e é uma ode aos tempos em que histórias de mistério eram publicadas em jornais e revistas de circulação mensal ou semanal. Coincide com a época batizada de Era de Ouro do romance policial – que deu força às histórias de Sherlock Holmes e Hercule Poirot, só para citar alguns.

No papo comigo, Tito contou que a ideia é dar vida longa à Mystério Retrô: ele já está preparando o número dois, tem material suficiente para o número três (ele recebeu nada mais, nada menos que 250 contos de autores querendo participar) e planeja, inclusive, um programa de assinaturas para que o leitor receba as novas edições em casa assim que saírem da gráfica.
Edições que, por si só, já foram feitas para serem um atrativo à parte. "A revista tem artes incríveis na abertura, diagramação bem caprichada, com duas colunas, e até os intervalos com propagandas que remetem exatamente às revistas daquela época. As pessoas paravam de ler o conto, liam a propaganda e voltavam ao conto", disse Tito.
A primeira edição da revista tem dois artigos sobre o romance policial e contos de nove autores. Entre esses autores está moi, este que fala com você. Nem preciso dizer o privilégio que foi participar dessa. Em O Último Ônibus, meu detetive Conrado Bardelli está viajando para o interior de São Paulo em um ônibus noturno quando um dos passageiros é assassinado debaixo do nariz de todos os outros. Quem matou? Como? E por que um passageiro idoso de repente perde o controle e ameaça fazer uma besteira?

Para comprar uma Mystério Retrô (R$22, com frete incluso) é só mandar um e-mail para revistamysterioretro@gmail.com. Para saber mais sobre a revista, eu indico a resenha da Ana Paula Laux no canal do Literatura Policial. Para saber mais sobre o livro O Mysterio, de 1920, recomendo este texto, também do Literatura Policial, e este outro do Jornal da Biblioteca Pública do Paraná.
Para ler a entrevista completa com o Tito Prates, é só clicar aqui.
Tortura Branca
Capítulo 2
Recebi um caminhão de mensagens de pessoas entusiasmadas com a história, e agradeço de coração por todas elas. Este é um momento bem agitado na minha vida, mas eu não consegui deixar de escrever. Tortura Branca tem sido meu escapismo, e – repito – espero que seja uma diversão tão despretensiosa e surpreendente para você quanto tem sido para mim.
No capítulo anterior, você conheceu a Júlia e o Guilherme, namorados que estavam de quarentena (meio fake, mas ainda conta) e tentando se suportar enquanto dividiam a mesma casa. Tentando. Mas tudo dá errado no dia em que a Júlia é demitida e percebe que sua vida está seguindo um rumo diferente do que ela queria.
Até aí normal, todos têm sua crise em meio à pandemia. O que não é normal no caso deles é que, na mesma noite, o Guilherme é assassinado com facadas logo depois de sair de uma chamada no Zoom. A segurança que estava de plantão em frente à casa até tenta ajudar, mas não tem jeito. Óbito na hora. A segurança chama a polícia. E agora a Júlia não sabe o que fazer da vida.
A sorte dela é que sua mãe tem contatos, e consegue a ajuda de um detetive que está de quarentena no interior de São Paulo. Você imagina quem?
Clique aqui para ler o capítulo 2 de Tortura Branca. O nome do capítulo é “Conrado”.
Até semana que vem!
Victor Bonini
25/06/2020
