Olá! Bem-vindo à primeira edição da minha Newsletter. A ideia é que ela seja semanal, sempre às quintas-feiras e com conteúdo que una jornalismo a literatura e cinema. Afinal, quantas vezes na sua semana você não para e pensa: "Vixe, isso é muito [nome do livro ou filme ou série]"?

A vida imita a arte
Eis que o Brasil deu a esta Newsletter um presente de batismo com uma notícia no melhor estilo "vida imitando a arte": hoje pela manhã, Fabrício Queiroz, ex-assessor e motorista de Flávio Bolsonaro, foi preso em uma operação coordenada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Ele estava na casa do advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef, já há cerca de um ano, segundo o próprio caseiro da casa.
O curioso é que Wassef disse em setembro de 2019 que não sabia onde Queiroz poderia estar. Isso me faz lembrar de outra história em que o dono da casa está vivendo sem imaginar que há mais alguém morando no mesmo imóvel que ele: o livro Colega de Quarto, escrito por este indivíduo que fala com você. No livro, o Eric é um estudante universitário que vê surgirem objetos pessoais estranhos pelo apartamento, até o dia em que enxerga um vulto entrando pela porta… e perde de vez a lucidez.
Será que foi isso que aconteceu com o pobre advogado?
Sabendo da minha nova Newsletter, o Jeff Bezos me deu um forcinha e colocou Colega de Quarto com um desconto INACREDITÁVEL na Amazon: está saindo por R$ 9,90 a versão física. Nove. E noventa. Para comprar o seu ou dar de presente para um amigo que está em quarentena e precisa de um colega de quarto neste momento, é só clicar aqui.

Entrevista
STF SOB ATAQUE
Anos antes do inquérito das fake news do Supremo Tribunal Federal, a literatura já tinha colocado a Corte Suprema como alvo.
Na semana em que o ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal autorizou a prisão da extremista Sara Winter e de outras cinco pessoas no inquérito das fake news – aquele que apura uma rede de ataques a autoridades financiada por militantes bolsonaristas – é impossível não se lembrar de que a Corte Suprema já esteve sob ataque antes. E não, não estou me referindo aos fogos de artifício que os membros do acampamento "300 pelo Brasil" lançaram contra o prédio do STF ao serem expulsos do acampamento em apoio ao Presidente Jair Bolsonaro.
Eu me refiro ao romance policial A Corte Infiltrada, escrito pela promotora de justiça de Pernambuco Andrea Nunes, lançado originalmente em 2014 e reeditado pela Buzz em 2017. Com temperos de Umberto Eco e Dan Brown – apesar de Andrea gostar mais do primeiro do que do segundo –, o romance começa com o assassinato de um monge budista, mas logo se mostra mais do que um policial tradicional: parte para uma conspiração em que uma organização criminosa quer se infiltrar no STF, e para isso desenvolve uma tecnologia que alia telecomunicações com neurociência. Espere mensagens subliminares, o uso de símbolos como pistas, passagens secretas e um final ousado.
E apesar de a história ter sido pensada em 2014, Andrea diz que os ataques imaginados em seu livro e os que são atualmente sofridos pela corte não são assim tão diferentes. "O que acontece hoje é o uso de um instrumento tecnológico, que são as fake news, para manipular o pensamento em larga escala. Fazem isso por via ilícita para que as pessoas desacreditem no sistema que legitima a nossa própria democracia", diz a autora.
Na entrevista abaixo, Andrea detalha os ataques ao STF – o literário e o real –, fala sobre a infiltração de organizações criminosas no poder, descreve seus hábitos incomuns de escrita e explica por que decidiu dedicar seu Prêmio ABERST de melhor romance policial com Jogo de Cena, em 2019, à escritora Anna Katharine Green, que morreu há 85 anos.

Victor Bonini: A Corte Infiltrada não poderia ser mais atual: mostra o Supremo Tribunal Federal sob ataque de um grupo que quer manipular opiniões alheias. Por que você decidiu escrever sobre isso há seis anos?
Andrea Nunes: A gente vive num regime democrático e o STF é um guardião dos valores democráticos que a gente escolheu enquanto civilização, no caso, como nação. Ele é um muro para determinadas distorções nos nossos sistemas, protegendo princípios da constituição contra ódios e paixões políticas, aventuras econômicas milagrosas e destruição de valores. Quanto mais forte for a democracia, mais a Corte Suprema vai exercer um papel importante. O Supremo, portanto, se torna um alvo prioritário de quem pretendem inviabilizar o poder para atender seus interesses. Eu queria mostrar pras pessoas que existem movimentos de infiltração das organizações criminosas nas instituições de poder. Eu via que – e isso está no livro – essas organizações criminosas já estavam financiando tanto terceiros para ocuparem cargos estratégicos como seus próprios elementos para irem às universidades e se tornarem juízes, promotores e, assim, entrar no sistema. Uma vez dentro, eles querem desestabilizar o Supremo de alguma maneira. No livro, é por meio de uma arma tecnológica que pretende manipular os ministros.
VB: Você vê paralelos com os ataques hoje sofridos pelo STF?
AN: Curiosamente, o que temos hoje não é uma situação tão diferente. Nós temos o uso de um instrumento tecnológico, que são as fake news, para manipular o pensamento em larga escala, manipulando as próprias pessoas, o povo enquanto poder originário. As fake news são uma via ilícita criada para que as pessoas desacreditem no sistema que legitima a nossa própria democracia. Então de uma forma ou de outra, o que eu desenhei ali é um retrato menor do que está acontecendo hoje, em outra escala.
[…] CONTINUE LENDO A ENTREVISTA AQUI.
Livro novo
Tortura Branca
Ou: Conrado Bardelli soluciona um crime na quarentena.
Após 100 dias de pandemia, você talvez não aguente mais ouvir falar em quarentena – apesar que, vamos combinar, a quarentena foi bem fake no Brasil, ainda mais com estados reabrindo num ritmo que especialistas consideram precoce e que pode fazer o número de mortes ser ainda maior do que o esperado.
Mas se você espertamente percebeu que o tema desta Newsletter é "a vida e a arte são uma coisa só" (brincadeira, tá, estas Newsletters não terão tema), você talvez goste de saber o que o Lyra – apelido do detetive Conrado Bardelli – está fazendo durante a quarentena.
Gente como a gente, o Lyra ficou naquele tédio, dividido entre montar quebra-cabeças e cozinhar. Até que um crime durante uma chamada de vídeo no Zoom fez o detetive aceitar o desafio de investigar um assassinato sem sair de casa.
Escrever essa nova história foi uma experiência profundamente divertida e descompromissada para mim. Espero que entretenha todos os que procuram um refúgio durante essa época.
LEIA AQUI O PRIMEIRO CAPÍTULO DE TORTURA BRANCA.
TRECHO:
— Socorro!
Aline pulou do banquinho e marchou antes mesmo de entender do que aquilo se tratava – quem gritava, por que, de onde. Puro instinto. O celular na mão estava pronto para discar o 190.
A moradora que gritava tinha pressa. Correu pelo gramado da casa com olhos do tamanho da lua.
— Você sabe estancar sangramento? Eu tô tentando, mas eu não devo tá fazendo a coisa certa, eu–
O maxilar dela tremia, como se ela estivesse com frio. E ela tinha sangue cobrindo os braços – o último detalhe que Aline percebeu e o primeiro que a fez se dar conta da gravidade do episódio.
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Obrigado, e que a arte nos dê força para enfrentar a vida.
Victor Bonini
18/06/2020
