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A edição de hoje é sobre monstros e olhos fechados. E não estou falando dos monstros que fecham os olhos para os absurdos do nosso mundo, como os 100 mil mortos por Covid-19 registrados no Brasil no último final de semana. Os monstros a que me refiro hoje são, ainda bem, do nosso imaginário, e sobre os quais você já deve ter ouvido falar, mas nunca viu. Ninguém viu, nem o autor, nem a Netflix. Porque se você olha, você morre.

Não é pra olhar (mas é pra assistir)
Lançado em 2014, o livro Caixa de Pássaros, do autor e músico norte-americano Josh Malerman, apresentou o fim do mundo pelas próprias mãos da humanidade: as pessoas começam a cometer suicídio ao bater os olhos em misteriosas criaturas que inexplicavelmente surgem em todo o globo. A única forma de se salvar é mantendo uma venda nos olhos.
A ideia de usar nosso sentido mais valioso como instrumento da nossa danação foi explorada pelo gênio José Saramago em seu Ensaio Sobre a Cegueira, com a diferença de que nele as pessoas ficam cegas do dia para a noite e se voltam umas contra as outras, meio lei da selva. Outra diferença é que enquanto Ensaio deu origem a um filme morno de bilheteria (com direção de Fernando Meirelles), Bird Box foi um tiro da Netflix.

Na semana seguinte ao lançamento, em dezembro de 2018, 45 milhões de contas assistiram ao filme, segundo a Netflix – uma Argentina inteira conferindo Bird Box em sete dias. Até hoje, o longa se mantém na segunda posição de mais vistos da Netflix, com 89 milhões de espectadores.
É bom frisar que o livro também foi um sucesso editorial no mundo todo. Só no Brasil, Caixa de Pássaros vendeu 220 mil exemplares.
*Momento sinceridade*: quando eu li Caixa de Pássaros em 2016, na hora pensei que uma adaptação para o cinema tinha grandes chances de ser um fracasso. Isso porque o livro assusta com os sons, os cheiros e as texturas desse fim de mundo – ou seja, com tudo o que não é visto. Funciona justamente porque ler um livro é a arte de assistir a uma história sem ver. Mas como fazer cinema sem ver?

A diretora Susanne Bier deu um jeito e conseguiu contar a história de forma bem decente, mantendo o misticismo em torno das criaturas nunca vistas. Mas o maior destaque do filme é, sem dúvida, Sandra Bullock dando vida a Malorie, a grávida que sobrevive em meio às criaturas e aos doidos e ainda dá conta de criar dois filhos. (A Sandra Bullock é só a gente em 2020: sofrendo e resistindo.) O filme faz uma interessante comparação entre a jornada para o desconhecido e a jornada da maternidade.
É exatamente por focar novamente nessas relações que me interessei tanto por Malorie, sequência pós-apocalíptica que Josh Malerman lança agora. A história se passa doze anos após a última página de Caixa de Pássaros e explora mais elementos desse misterioso novo mundo habitado pelas criaturas.
Malorie e seus dois filhos estão desfrutando do status quo quando uma visita acaba com a paz deles: um homem que diz trabalhar num censo levantando informações deixa papéis que mostram que pessoas importantes para Malorie estão vivas. Ela decide partir em uma nova viagem, e aí tudo entra em ebulição: os traumas da mãe sobrevivente, o sonho de liberdade dos filhos e o perigo dos que tentam reerguer a humanidade ao estado de sociedade.

Toda essa história foi pensada enquanto Josh ainda escrevia Caixa de Pássaros, iniciado em 2006. "A primeira versão de Caixa de Pássaros tinha mais ou menos o dobro do tamanho do livro que foi publicado. Eu removi uma trama que eu gostava muito mas que eu senti que diluía o medo. Ocupava muito. Então eu sempre considerei escrever um livro baseado nessa trama. Uma sequência", ele diz.
Josh Malerman se denomina como um "escritor prolífico" – motivo pelo qual ele escreveu Caixa de Pássaros três vezes e já tem mais de 30 livros escritos (9 lançados). No Brasil, a Intrínseca publicou também Inspeção, Piano Vermelho e Uma Casa No Fundo de Um Lago. "A sensação de parar, de diminuir o ritmo, de (suspiro) esperar pela inspiração seria o equivalente à morte criativa", escreveu Josh no posfácio de Malorie.
Na entrevista comigo, Josh contou que uma de suas maiores inspirações para escrever a sequência foi ver Sandra Bullock dar vida a Malorie, disse que demorou oito meses para pôr tudo no papel e explicou como lida com suas duas facetas: o Josh escritor e o Josh músico.

Crédito da foto: Darrel Ellis
Victor Bonini: Como foram os últimos meses pra você? De quarentena escrevendo Malorie ou você tinha terminado o livro antes de março?
Josh Malerman: Eu fiquei bem. Eu sou um otimista por natureza, então eu tenho insistido mais no lado de "nós vamos superar isso", mas, como todos nós, eu fico alternando entre esperança e um sussurro bem baixo de ansiedade. Mas no geral? Bem. Tenho escrito muito. Já Malorie eu terminei no ano passado, entre outubro e novembro de 2019.
VB: Você sempre teve a ideia de escrever Malorie ou desenvolveu por causa do sucesso de Caixa de Pássaros na literatura e no cinema?
JM: Esta resposta tem três partes: 1- A primeira versão de Caixa de Pássaros tinha mais ou menos o dobro do tamanho do livro que foi publicado. Eu removi uma trama que eu gostava muito, mas que eu senti que diluía o medo. Ocupava muito. Então eu sempre considerei escrever um livro baseado nessa trama. Uma sequência. 2- Ver a Sandra Bullock como Malorie me deixou maluco. E eu quis ver mais da Malorie depois de assistir ao filme. 3- O sucesso do filme foi algo fora deste mundo. Então esses três fatores me levaram a começar a escrever Malorie em fevereiro de 2019.
Para ler a entrevista completa com Josh Malerman, clique aqui.
Tortura Branca
Um assassinato no meio de uma chamada no Zoom, em plena quarentena. Um detetive tentando investigar à distância. Um criminoso que parece invisível.
Entrando na reta final da investigação, Conrado Bardelli recebe informações da polícia que podem mudar tudo. Ao mesmo tempo, Olga mergulha no psicológico de Júlia tentando entender decisões que prova material nenhuma seria capaz de explicar.
Para ler o capítulo 9 de Tortura Branca, clique aqui.
Se você quiser reler os outros capítulos, é só acessar este link.
Até semana que vem! Fecha os olhos que eu vou sumir.
